O Pai Natal andava muito aflito de um lado para outro, nervoso, ansioso… coçava a cabeça, abanava a cabeça e ia murmurando:
- Não, não, isto não pode estar a acontecer. O Natal é já daqui a um mês e nada. As encomendas não saem.
E continuava puxando a barba e ajeitando os óculos que lhe teimavam em escorregar para o nariz:
- Não, não pode ser. Como é que eu vou resolver esta situação? Aqueles meninos e meninas não podem ficar sem brinquedos. Como é que vou fazer? Os duendes estão de greve, e retiraram-se para o Pólo Sul.
- Pai Natal, Pai Natal e se fossemos à floresta encantada …. Moram lá aqueles duendes… Aquelas famílias que vivem das compotas de cogumelos e dos doces de melaço das abelhas da gruta florida?!
- Boa ideia, eles são divertidos, trabalhadores e gostam de ajudar os outros. De certeza que nos vão ajudar na fábrica de brinquedos. – animou-se o Pai Natal.
Ao chegarem à clareira Teodósio (o pai da família dos duendes que faziam compotas de cogumelos) com uma pequena enxada colhia com muito cuidado um cogumelo amarelo gigante.
Teodósio – Pai Natal, então por aqui? Acabaram-se-lhe os cogumelos? Nós devemos ter alguns lá em casa, eu vou lá buscar…
Pai Natal – Não, calma Teodósio. O que me traz cá é um problema bem mais grave do que se me acabarem os cogumelos de compota.
Pai Natal – Sabes que o Natal está próximo…
Teodósio – Ih! Ainda falta mais de um mês.
Pai Natal – Pois, mas é muito pouco tempo para ter tudo pronto. A fábrica está parada. Os duendes foram todos para o Pólo Sul. Estão a fazer greve porque não querem fazer espingardas e pistolas para os meninos poderem brincar. Também não querem fazer soldadinhos nem bonecos de acção…
Teodósio – Sim, ouvi dizer, mas eles têm razão. Com tanta violência que se vê no mundo, as crianças não precisam de brincar às guerras. Há brincadeiras muito mais engraçadas.
Pai Natal -Sininho e eu queremos pedir-vos um grande favor. Como sabeis os duendes estão em greve, recusam-se a trabalhar este Natal. Reclamam que precisam de férias, porque levam o ano inteiro a fazer brinquedos para os meninos e meninas e … lamentam que eles e elas se comportem cada vez pior, por isso, resolveram não trabalhar durante o mês de Dezembro. Ora isto é muito complicado, porque há brinquedos por acabar e muitos, muitos embrulhos por fazer. Tem de estar tudo preparado muito tempo antes, para eu poder no dia 24 e madrugada de 25 distribuir os presentes. Tenho o Mundo inteiro!!!!!
Estou certo que posso interromper o fabrico de compotas de cogumelos durante uns dias. Temos bastante em stock, por isso certamente que vos poderemos auxiliar. É só um momento… vou a casa e já volto… Ou por outras palavras, que falta de educação a minha… venha Pai Natal, venha até minha casa e dar-nos-á as indicações que considerar necessárias para podermos começar a trabalhar na fábrica.
O vovô Cantilenas tinha olhos castanhos e grandes, cabelos… quase não tinha mas os que tinha, eram brancos. O nariz pequeno e arrebitado via-se por cima de uns lábios vermelhos que se destacavam da sua cara rugosa, ou seja, cheia de pés de galinha. Era, como todos os duendes de estatura pequena e usava uma bengala feita de tronco de carvalho. Era corajoso mas por vezes tinhas uns receios absurdos. Tanto podia enfrentar sozinho com a sua bengala um urso como tremia de medo se alguma das suas netas, a quem adorava, adoecia.
Cantilenas responde a Laurentino:
- Não te preocupes Laurentino, que eu e as abelhas somos velhos amigos. Elas comigo não querem nada, não me podem vir buscar pólen porque eu não sou nenhuma flor.
Laurentino era o chefe da família Colmeia, que se dedicava a fazer doces de mel. Lembram-se?
Laurentino era casado com, a sua mulher, a duende Derrotina. Derrotina era portadora de uns grandes olhos castanhos, usava sempre maquilhagem e abusava do pó de arroz. Parecia que nem tinha 50 anos (o que em idade de duende correspondia a uns 200 anos), quando tirava o pó de arroz o seu rosto evidenciava as rugas da idade. Era simpática, vaidosa e muito senhora do seu nariz. Era ela que dirigia a família e o seu Laurentino adorava-a e fazia-lhe todas as vontades.
Laurentino por sua vez era muito pacato. De olhos pequeníssimos azuis, com duas orelhas muito pontiagudas e grandes. Era, ao contrário de Derrotina magrinho. Media cerca de 20 cm e apesar de ter poucos cabelos, estes eram castanhos.
Tinham cinco filhos, todos rapazes. Eram o Molenga, o Didiano, o Samungas, o Inventino e o Consolas. Estes cinco duendes passavam a vida a fazer travessuras e a arreliar as irmãs da família Cogumelo. Sim, porque o duende Teodósio e a sua mulher a duende Anica tinham cinco filhas: a Joceline, a Madruga, a Vespertina, a Travessuras e a Choramingas.
Estes duendes passavam a vida a implicar uns com os outros, mas, como veremos, agora, vão unir-se por uma boa causa – ajudar o Pai Natal.
Anica – Pai Natal, então por aqui? Não devia estar na fábrica, todo atarefado, como é costume nesta altura do ano?
Pai Natal – Sim, tens razão, mas é por isso mesmo que eu vim falar com o Teodósio e com o Laurentino. E claro… com todos vocês, todos os braços são preciosos. Como já deves ter ouvido falar, os duendes que trabalham na fábrica foram para o Pólo Sul, dizem que precisam de férias e que não querem fazer brinquedos para as crianças, que os que fizeram já chegam. E… tenho encomendas por acabar… embrulhos por fazer… organizar as entregas…
Anica – Mas… Pai Natal, nós ajudamos. Veja, cá em casa somos nove, ou seja, dezoito braços, e isso multiplicado por dez dedos em cada mão…
Pai Natal - Era isso mesmo que eu precisava de ouvir, Anica és sempre tão despachada e tão prestável!
Anica – E o meu Teodósio onde é que ele anda? – perguntou ela olhando em redor a ver se avistava o marido.
Anica – Vou mas é sem demoras chamar as minhas filhas que estavam a brincar na clareira.
Da esquerda para a direita no sentido dos ponteiros do relógio aqui temos a Joceline, a Madruga, a Vespertina, a Travessuras e a Choramingas.
Joceline era a mais destemida das duendes, mais parecia um rapaz. Gostava de praticar tiro com arco, e era de fugir quando ela treinava a sua pontaria às bagas vermelhas do azevinho, que abundava no Inverno nos arrabaldes da floresta. Andava sempre em correrias e gostava de se vestir de azul. Ao contrário das irmãs, ela usava o cabelo curto e um chapéu de penas azuis de uma espécie bastante rara da Fénix. Tinha uns olhos pequeninos, como toda ela, orelhas muito pontiagudas e usava umas botas de pele de cordeiro, também elas muito pontiagudas.
Madruga, apesar do seu ar angélico e doce, era a mais rápida de todas. O seu passatempo favorito era madrugar. Acordava com as gotas de orvalho matinais e deitava-se quando os raios de sol ainda beijavam as copas das árvores mais altas da floresta. Era alegre e a sua alegria via-se no sorriso que trazia sempre estampado no rosto. Tinha longos cabelos ruivos, que penteava em dois totós, um de cada lado da cabeça. Os olhos verdes e grandes, rasgavam-se para os dias e a boca, bem desenhada, vermelha sabia dizer palavras doces e meigas. Vestia-se sempre de cor-de-rosa, inclusive o barrete pontiagudo que todos os duendes usam.
Vespertina era muito bonita e desportiva, mas ao contrário de Madruga gostava de dormir toda a manhã e de tomar o pequeno-almoço quando os outros almoçavam. Por isso, à noite nunca tinha sono e fazia trinta por uma linha, não deixando os outros sossegar, principalmente a irmã Madruga. Vespertina tinha como todos os duendes orelhas pontiagudas, media 20 cm, mas desses 20 cm 15 eram de pernas. Vespertina tinha as pernas muito altas para o seu pequeno corpo, por isso as irmãs e os vizinhos a aborreciam e lhe chamavam pernalta, que quer dizer perna alta.
(Sabiam que existem umas aves que por terem as pernas muito altas, como os flamingos pertencem à classe das aves pernaltas?)
Voltando a Vespertina, ela tem as pernas muito compridas mas uns pés muito pequeninos, era ruiva e tinha olhos verdes cor de esmeralda. Era simpática, de bom feitio, porque apesar de fazer trinta por uma linha não gostava de discussões.
Travessuras, como as suas irmãs era pequenina e como o seu nome indica gostava de fazer travessuras. Tinha grandes olhos azuis, cabelo entre o loiro, o ruivo e o esverdeado, nariz pequeno e orelhas de duende. Usava sempre roupa verde a condizer com o seu barrete. Era teimosa, persistente, e… a sua travessura preferida era acordar as irmãs fazendo-lhes cócegas nas plantas dos pés.
Choramingas, a mais nova, era quase uma cópia da irmã Travessuras, mas em tamanho mais pequeno, só media 12 cm. O seu cabelo loiro era sedoso, comprido e tinha como todos os duendes orelhas pontiagudas, olhos verdes esmeralda e muitas sardas. A sua cor preferida era o verde. Adorava ajudar as pessoas e os outros duendes mas se se metiam com ela desatava logo a chorar. Choramingas chorava se estava contente, chorava se estava triste, chorava se via uma flor bonita, se chovia, se trovejava, se lhe ofereciam uma prenda, … enfim chorava de alegria e de tristeza, de emoção e de contrariedade, chorava por tudo e por nada.
Anica - Meninas, meninas, venham cá! Está aqui o Pai Natal!
As filhas que não brincavam longe acorreram em grande alvoroço:
- Pai Natal, Pai Natal mas ainda não é o dia! – gritavam em coro.
Pai Natal – Não ainda não chegou o dia, mas se vocês não me ajudarem não vai haver presentes para ninguém. Temos de ir para a fábrica terminar os comboios eléctricos e fazer milhares de embrulhos.
Vespertina – È verdade que os duendes este ano não fizeram brinquedos bélicos? Daqueles que servem para os meninos brincarem às guerras e andarem a fingir que dão tiros uns aos outros?
Choramingas – É verdade que nem sequer uma pistola daquelas de brincar? Nem carrinhos que disparam balas? Nem sequer aqueles heróis como o Super Homem e outros dos desenhos animados?
Pai Natal – Sim é verdade, este a no só há comboios eléctricos, automóveis que não poluem, e bonecos bonzinhos. Há é muitos jogos para todas as idades, mas são daqueles jogos de tabuleiro.
Joceline – Jogos de tabuleiro? Para jogar no computador?
Pai Natal – Não, minha querida, jogos para jogar num tabuleiro de cartão em cima de uma mesa. Nada de jogos para computador ou consola ou Play Sation
Travessuras – Mas porquê? São esses os jogos que os meninos pedem mais?
Pai Natal – Pois, eu sei, mas este Natal não há pedidos para ninguém. Os duendes acham que os meninos devem aprender a brincar em grupo, a jogar com os amigos jogos que não lhes prejudiquem a visão, como o estar muitas horas em frente ao computador.
Madruga – Pai Natal, não era melhor irmos chamar os irmãos Colmeia? Eu sei que eles são muito brincalhões, mas como diz o Avô Cantilenas, a cantar e a trabalhar todos os braços não são demais.
Vespertina – E com cantigas nem o trabalho cansa.
Com esta canção a Avó Farturas chega e comenta:
Avó Farturas – Sim senhor, haja alegria e espírito natalício. Mas o que estão todos a fazer aqui na clareira? A ensaiar para a festa de Natal?
A avó Farturas tinha olhos verdes, orelhas muito grandes e, claro pontiagudas, cabelos compridos e fartos, e usava sempre umas camisolas verdes. O verde mudava de tom mas era sempre verde a cor dos seus fatos. Até os seus sapatos eram verdes, mas de um tom mais clarinho, enquanto o barrete era verde cor de musgo. Usava uns brincos de hera que contratavam com os seus lábios carnudos e avermelhados e com o seu narizinho pequenino e arrebitado.
Ela era muito brincalhona, de certeza que a sua neta Travessuras tinha dela herdado a boa disposição e o gosto pela paródia. Era corajosa, voluntariosa e gostava muito de uma mesa farta e rica, por isso gastava grande parte do seu tempo na cozinha a preparar magníficos petiscos para a sua grande família. Contudo era uma duende calma, paciente, organizada e sábia visto conhecer receitas que mais ninguém sabia. Só se zangava se as suas netas entravam na cozinha e mexiam nos inúmeros utensílios e ingredientes que dispunha ordenadamente nas bancadas da sua grande cozinha.
Anica – Não mãe, estamos aqui a combinar com o Pai Natal a forma de melhor nos organizarmos, para irmos para a fábrica de brinquedos ajudar a terminar os comboios eléctricos e a embrulhar todos os presentes. É que o Natal está aí à porta e está tudo por embrulhar.
Avó Farturas – Bem, então o que estamos aqui ainda a fazer, toca a marchar para a fábrica.
Anica - Calma mãe, ainda vamos chamar os Colmeia, eles também poderão dar uma ajudinha.
Nisto surge o Teodósio acompanhado da Derrotina e dos seus cinco filhos. Eram eles o Molenga, o Didiano, o Samungas, o Inventino e o Consolas.
Inventino gostava muito de inventar coisas. Desde histórias a engenhocas um pouco de tudo ele inventava. Usava uns óculos redondos e com umas grandes lentes, o que era invulgar nos duendes, pois eles têm sempre uma óptima visão. Era gordinho e com um nariz pontiagudo com uma verruga na ponta. Era o mais baixo dos irmãos mas era muito persistente. Como não podia deixar de ser usava o seu gorro verde mas as camisolas e as calças eram quase sempre amarelas ou em tons de terra.
Adorava a Choramingas por quem tinha uma paixão secreta
Consolas era muito antipático, conseguia ser antipático por todos os duendes juntos. Era também rezingão, resmungão e queria que os outros lhe fizessem sempre tudo. E não é que tinha sorte e lhe faziam mesmo, bastava ele abrir os seus enormes olhos pretos, que mais pareciam duas azeitonas, arrebitar o nariz arredondado, pôr-se muito direito, sacudir a cabeleira farta e loira, arrebitar as orelhas pontiagudas e zás, todos lhe faziam as vontades.
Pai Natal – Ainda bem que estamos todos reunidos, porque a Sininho e eu precisamos mesmo da vossa ajuda. Será que poderiam vir connosco para a fábrica de brinquedos para ultimarmos as prendas de Natal?
Todos – Claro que sim, Pai Natal, não o vamos deixar sem presentes para as crianças, então iam deixar de acreditar no Natal e no Pai Natal.
Vespertina – Sim, vamos. Eu não me importo de trabalhar toda a noite, nunca tenho sono.
Madruga – E eu trabalho mais de manhã. Pois não me importo de levantar cedo, até gosto.
Sininho – Sim, ajudas-me a escolher as cores e a colocar os brilhantes.
Inventivo – Sabem que eu inventei uma forma de fazer uns laçarotes muito grandes com pouca fita e que são muito rápidos de fazer?
Travessuras – Ensinas-me?
Samungas – Ora bem maninho, já estás interessado em divulgar os teus dotes de inventor.
Molenga – Pois eu , Pai Natal, Vou ajudar a acabar os comboios eléctricos.
Consolas – E não vais sozinho, eu também vou!
Didiano – E eu também, que vocês os dois ainda transformam os comboios em barcos a vapor.
Choramingas – E eu? O que é que eu faço?
Mãe Anica – Tu minha linda vais ajudar-me a vestir as bonecas.
Choramingas – Sim, que bom! E a avó também nos ajuda?
Avó Farturas – Claro, vamos todas vestir as bonecas e ver se é preciso fazer-lhes alguns fatinhos ou vestidinhos.
Pai Natal – Sim é disso que nós precisamos, de organização e de dividirmos o trabalho para não estarmos todos a fazer o mesmo e corrermos o risco de não conseguir terminar os presentes a tempo.
Sininho- Que bom, sempre iremos conseguir terminar. Eu até já tinha enviado umas mensagens às fadas da floresta encantada, a pedir ajuda. Acho que elas já por aí andam a esvoaçar!
E todos, em fila, foram cantando a canção dos duendes, até à fábrica dos brinquedos…
Canção dos duendes
Duendes, duendes, duendes, duendes, duendes (coro)
No maravilhoso mundo dos duendes Duendes, duendes
A aldeia tem as cores da alegria
Duendes, duendes
E à noite
Eles sonham com o doce
Encanto de uma linda melodia
Duendes, duendes
No maravilhoso mundo dos duendes
Se respira sempre o aroma da liberdade
O amor da natureza é o sentimento que está
Espalhando ao mundo a felicidade
Os duendes podem ajudar
As florestas e os animais
E se existem de verdade
São seres da terra e eternamente por lá vão ficar
Os duendes gostam de dançar
Os duendes gostam de cuidar
Duende é um nome pequenino
Mas o coração é enorme demais
Duendes, duendes, duendes, duendes, duendes (coro)
No maravilhoso mundo dos duendes
A aldeia tem as cores da alegria
A floresta é encantada
E a luz do Sol atravessa as nuvens de algodão
O Natal dá mesmo muito trabalho... pensem nisso quando chegar o próximo Natal!
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